Cidade está
entre as mais pobres do país que não aderiram ao programa. Prefeita afirma que
não há carência de profissionais, mas de infraestrutura.
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HERANÇA: Caxingó, possui duas ambulâncias. Uma está sucateada no pátio da Unidade de Saúde. A prefeitura não se inscreveu no programa Mais Médicos alegando que não faltam profissionais, e sim, estrutura de atendimento (Foto: Patrícia Andrade/G1) |
Caxingó, localizada no litoral do
Piauí, é a 2ª cidade do estado com o pior índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM) e uma das 32 com o pior resultado no país.
Apesar
disso, foi uma das seis cidades brasileiras com IDH classificado como
"muito baixo" que não aderiram ao programa Mais Médicos do governo
federal, segundo cruzamento de dados feito pelo G1.
A prefeitura alega que trazer
mais médicos custaria "caro" para as finanças do município. Além
disso, diz que não há carência de profissionais, mas falta de estrutura e
equipamentos para o atendimento na atenção básica.
A cidade, castigada em 2012 pela pior seca dos
últimos 40 anos no Piauí, conta atualmente com quatro médicos e três Unidades
Básicas de Saúde (UBS), duas delas localizadas na zona rural.
Cada equipe do Programa Saúde da Família (PSF) é
composta por um médico da família, um enfermeiro, um técnico em enfermagem e
três agentes comunitários de saúde, profissionais que se revezam no atendimento
domiciliar e nas unidades.
Os profissionais atuam de segunda a sexta no
Centro de Saúde Clarindo Rodrigues de Carvalho, unidade que fica localizada na
zona urbana. Um dentista também presta atendimento durante toda a semana.
Os médicos também trabalham em outras cidades
próximas, cerca de 100 km de distância. Buriti dos Lopes, Cocal e Parnaíba são
chamados "polos" de saúde e atendem a população de diversos
municípios vizinhos.
Falta de estrutura
O G1 encontrou
condições precárias de atendimento em algumas das unidades de saúde de Caxingó. Nenhuma
delas conta com leitos para internação, e os casos de média e alta complexidade
são transferidos para o Hospital Regional Dirceu Arcoverde, em Parnaíba, apoio
para outras dez cidades.
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Unidade de Saúde realiza uma média de 1.100 consultas por mês (Foto: Patrícia Andrade/G1) |
Não há aparelhos para exames como
eletrocardiograma, raio-X e ultrassonografias. Como exige enfrentar a fila de
Parnaíba, a espera pode durar até três meses, segundo o secretário de Saúde de
Caxingó, Antonio Bruno Fontinele.
Atualmente, apenas uma ambulância atende a
população, já que a outra está sucateada. A prefeitura conta com dois veículos
menores que auxiliam no transporte de pacientes.
“[Para
aderir ao Mais Médicos] nós teríamos que arcar com despesas de alimentação,
hospedagem e deslocamento para manter esse profissional e não temos de onde
tirar. Já gastamos além dos 15% destinados à saúde para dar conta das equipes e
unidades de atendimento que temos na cidade”, afirma a prefeita Rita Sobrinho
(PT).
Segundo ela, Caxingó não tem arrecadação e conta
apenas com o repasse médio de R$ 200 mil do Fundo de Participação dos
Municípios (FPM). O gasto com a saúde é responsável por quase 18% da despesa
total da cidade.
Conforme o secretário de Saúde, a adesão ao Mais
Médicos tiraria as verbas do Programa Saúde da Família. “O governo está dando
com uma mão e tirando com as duas. Quando optamos pelo Programa de Valorização
do Profissional da Atenção Básica (Provab), a história era a mesma, de que o
médico viria com uma bolsa paga pelo governo federal. Mas foram descontados R$
8 mil dos recursos da prefeitura”, explicou.
“Nossa
cidade é uma cidade sem arrecadação. Perderíamos recurso”, afirma o secretário.
“A gente acha um contrassenso. O governo pensa que é só colocar médico. Pegamos
unidades completamente sucateadas. Não tinha nem balança. O problema não é
médico. Não tem a infraestrutura”, reclamou.
O Ministério da Saúde diz que "além de pagar diretamente pelo médico,
ainda repassa mais R$ 4 mil para o município compor a equipe de saúde da
família". A pasta afirma que o programa prevê "pagamento da bolsa
diretamente ao médico, no valor de R$ 10 mil. Antes, os municípios que tinham
que contratar os médicos diretamente e arcar com esse custo. Agora, esse custo
será federal e os municípios ficam a cargo de alimentação e moradia desses
profissionais."
Especificamente no Piauí, diz o ministério, foram
investidos R$ 67,7 milhões para obras em 507 unidades de saúde e R$ 18 milhões
para compra de equipamentos para 98 unidades. “Também foram aplicados R$ 26,3
milhões para construção de 12 UPAs e R$ 93,7 milhões para reforma/construção de
10 hospitais”, afirma a pasta em nota.
Wilson Cabral, um dos médicos que trabalha em Caxingó, considera a concepção do
programa Mais Médicos "falha". "Não somos contra o programa, mas
os novos profissionais estão sendo prestigiados, quando não há estímulo e
respeito aos médicos com uma experiência já consolidada. O que não podemos
aceitar é a atuação desses profissionais sem o Revalida [exame que faz a
revalidação de diplomas estrangeiros]", afirma.
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Prefeitura diz que não há carência de médicos, mas de estrutura e equipamentos (Foto: Patrícia Andrade/G1) |
De acordo com a assessora técnica
da Secretaria de Saúde de Caxingó, Ilvanete Tavares Beltrão, o "não"
ao Mais Médicos tem explicação. Segundo ela, a cidade priorizou a participação
em outros programas para assegurar e melhorar o acesso da população ao serviço
de atenção básica, como o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), que prevê
a contratação de profissionais como psicólogos, nutricionistas e
fisioterapeutas na equipe, mas que ainda não foi implantado.
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Quatro médicos trabalham na cidade na Atenção Básica (Foto: Patrícia Andrade/G1) |
A prefeitura também tenta aderir ao Programa
Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), visando
mais recursos para a saúde. Segundo a administração municipal, o dinheiro seria
usado na compra de material para as três UBSs e implementação no salários dos
profissionais.
“Essa foi uma decisão compartilhada, porque diante
dos nossos indicativos não vimos a necessidade de ter mais um profissional, mas
priorizar programas que venham a dar melhor suporte ao trabalho que já vem
sendo feito. Não concordamos com essa verticalização das ações do Ministério da
Saúde em dizer o que estamos precisando. Temos que ajustar necessidades às
possibilidades”, diz.
A Secretaria de Saúde pretende implantar até o
próximo ano o atendimento de emergência nos fins de semana, e a prefeitura
conseguiu a aprovação junto ao Ministério da Saúde a aquisição de uma unidade
do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que será compartilhada com
a cidade vizinha de Caraúbas, distante 12 km. Segundo o secretário, o serviço
vai funcionar a partir de 2014. As três unidades de saúde também estão passando
por uma ampliação.
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A dona de casa Maria Cilda se diz satisfeita com o atendimento (Foto: Patrícia Andrade/G1) |
Atendimento
“Sempre que eu venho atrás de uma consulta eu consigo e isso não era tão fácil.
Já precisei por duas vezes e fui atendida. Não há muito o que reclamar. O
médico demora porque vem de outra cidade, mas, para mim, isso é normal”, afirma
a auxiliar de serviços gerais Fátima Nascimento.
A dona de casa Maria Cilda de Sousa Gomes mostra o
cartão de vacina do filho caçula de dois anos atualizado. Ela ajuda a engrossar
a fatia de moradores que sobrevivem com a renda do Programa Bolsa Família --
82% do total do município.
Com o ganho mensal de R$ 244 que recebe do
programa federal, ela mantém com dificuldade o sustento da casa de quatro
cômodos. Por outro lado, ela diz que a acesso fácil ao serviço de saúde lhe
garante a medicação em casos onde há necessidade de tratamento. “Graças a Deus
nós temos médicos e médicos bons e medicação também. Aqui só não dá para
resolver os casos de urgência. Não tenho o que reclamar não”, afirma.
Fonte: Patrícia Andrade do G1 PI