Prometida como a maior obra hídrica da história do Piauí, a Adutora do Litoral foi oficialmente entregue com destaque em eventos públicos, postagens de autoridades e campanhas institucionais. Com um investimento de R$ 70 milhões vindos do BNDES, Finisa, Pro Desenvolvimento 4 e do Tesouro Estadual a estrutura foi anunciada como a solução definitiva para o abastecimento de água tratada nos municípios da região litorânea. Mas a realidade enfrentada por moradores de algumas dessas cidades não condiz com a propaganda oficial.

Embora o sistema conte com 159 quilômetros de rede, 16 reservatórios de grande capacidade e mais de 4.800 ligações domiciliares previstas, o abastecimento ainda não chega à maioria das casas. Em uma das cidades atendidas, apenas 8% da população estaria efetivamente conectada à rede, segundo denúncias de moradores. O restante continua dependendo de poços, caixas improvisadas ou do fornecimento por caminhões-pipa, como já era antes do início da obra.
Segundo relatório divulgado pela Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Piauí (Agrespi), a adutora está com grande parte de sua estrutura pronta, incluindo a captação flutuante e os sistemas de bombeamento. No entanto, a Estação de Tratamento de Água (ETA IV), essencial para a operação plena do sistema, apresenta falhas em seu macrodistribuidor, o que tem comprometido o envio da água tratada para as cidades beneficiadas. A consequência direta é a baixa efetividade da rede, mesmo com a obra oficialmente entregue.
O relatório da Agrespi ainda revelou que, desde o início da operação parcial, nenhum estudo de satisfação foi realizado junto aos consumidores. Ou seja, o governo estadual e os órgãos responsáveis não possuem dados oficiais sobre a real experiência da população com o serviço. Essa ausência de controle social e de transparência compromete a credibilidade do projeto e reforça a percepção de que a entrega da adutora ocorreu antes da sua conclusão prática.
Apesar disso, o governo estadual tem usado a Adutora do Litoral como vitrine. O projeto é exaltado como símbolo de avanço estrutural, sendo mencionado em discursos, visitas técnicas e campanhas nas redes sociais. Fala-se em transformação, segurança hídrica e legado, mas sem que isso se reflita de forma concreta na vida da maioria das famílias. Em algumas comunidades, a água sequer chegou às torneiras. Em outras, quando chega, é com baixa pressão e horários restritos.
A estimativa de que apenas 8% da população esteja efetivamente conectada à rede precisa ser confirmada por órgãos técnicos, mas já revela um alerta importante: o projeto pode estar sendo tratado como concluído sem que tenha, de fato, cumprido seu papel. Obras públicas como essa só têm valor real quando transformam a vida da população. Enquanto isso não acontece, o que se vê é uma estrutura milionária que ainda não cumpriu a promessa mais básica: fazer a água chegar onde ela é mais necessária.
A Adutora do Litoral foi pensada como um divisor de águas para o litoral piauiense, mas, por enquanto, divide mesmo é a realidade da população e o discurso das autoridades. A água continua sendo privilégio de poucos, e o abastecimento pleno, uma promessa que ainda não saiu da torneira.
(Encarando)
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