A produção de
pescado tem se apresentado como alternativa econômica no semiárido
nordestino. No Piauí, a atividade ganha destaque dentre as ações
promovidas pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e do Parnaíba (Codevasf), por meio do programa de apoio
à estruturação de Arranjos Produtivos Locais (APLs).
Nos últimos quatro
anos, a empresa já investiu mais de R$ 3 milhões na área da
piscicultura no estado. O foco principal é a piscicultura em
tanques-rede por meio das associações e cooperativas, com a
capacitação e treinamento de produtores e o fornecimento de
tanques-rede e ração para os primeiros ciclos de criação. As ações
são desenvolvidas juntamente com o Ministério da Integração
Nacional, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Regional,
governo do estado, prefeituras, outros órgãos públicos e
iniciativa privada.
“No meio rural é
necessário buscar alternativas de produção que diversifiquem as
atividades, gerando renda e oportunidades paralelas para o
produtor, considerando o potencial da região e as vocações locais.
A criação de peixes em tanques-rede é uma atividade econômica que
vem atraindo muitos empreendedores para a região Nordeste. As
condições climáticas locais aliadas aos abundantes recursos
hídricos de boa qualidade disponíveis reduzem o tempo de cultivo
de várias espécies de peixes em relação às outras regiões do
Brasil e proporcionam um rápido retorno financeiro ao
piscicultor”, explica o engenheiro de pesca da Codevasf, Hermano
Santos.
No Piauí,
encontra-se um exemplo bem-sucedido de apoio à atividade
piscícola. Trata-se da Cooperativa Aquícola Regional de Picos
(COAP), uma das primeiras entidades apoiadas pelos projetos de
piscicultura em tanques-rede da Codevasf. A COAP funciona na
Barragem de Bocaina, no município de mesmo nome, a 350 km de
Teresina. O açude, que ocupa 1,1 mil hectares e capacidade para
106 milhões de m³ de água, antes era apenas área de lazer. Hoje, o
local transformou-se num importante polo de criação de pescado
graças ao incentivo da Codevasf e o trabalho organizado dos
piscicultores. “Sentimos a necessidade de nos organizarmos
principalmente para aquisição de ração e alevinos. Hoje, somos
referência devido ao esforço do grupo e o apoio da Codevasf, que
alavancou nosso trabalho”, explica João Francisco da Luz,
tesoureiro da entidade.
Incentivo à
organização
O empreendimento
teve início em 2005, com o fornecimento, por parte da Codevasf, de
70 tanques-rede e insumos. A partir daí, o arranjo produtivo local
de piscicultura se consolidou. Atualmente, a COAP conta com 43
piscicultores cooperados dos municípios de Picos, Sussuapara,
Bocaina e região. Juntos, eles produzem anualmente cerca de 320
toneladas de tilápia, contando com cerca de 510 tanques-rede.
A produção é
comercializada nos municípios de Teresina, região de Picos e até
em estados vizinhos, como o Ceará e Pernambuco. O volume de venda
diário chega a cerca de 800kg. “Além disso, o Programa de
Aquisição de Alimentos, do governo federal, também tem ajudado a
gente”, explica João Francisco. O programa é coordenado e
executado com recursos dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário
(MDA) e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em
parceria com estados, municípios e com a Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab).
Os piscicultores cooperados estão satisfeitos com os resultados.
“Depois que entrei na Cooperativa a minha vida melhorou. Antes era
trabalhador assalariado. Hoje, consigo uma renda de até dois
salários e meio”, explica o piscicultor José Antônio de Araújo
Luz, integrante da COAP há oito anos. Com a atividade da
piscicultura em tanque-rede, ele sustenta uma família de quatro
pessoas.
Para o presidente da COAP, Francisco José da Luz, a piscicultura
regional de Picos tem duas historias: uma antes dos parceiros,
principalmente a Codevasf, e outra depois. “Não tínhamos a prática
de criar peixes em cativeiro. A Codevasf aceitou esse desafio
conosco. Hoje, somos referência no estado não apenas pelo número
de tanques-rede, mas também pela sua taxa ocupacional (95%), sem
querer menosprezar as demais cooperativas e associações com as
quais nós temos um vínculo muito importante”, explica Francisco
José.
Fortalecimento da
atividade
Desde 2004, a
Codevasf implanta e mantém unidades de capacitação de criação de
peixes em tanques-rede em barragens/açudes e em tanques escavados,
tendo como objetivo a formação de mão-de-obra qualificada, além de
incentivar o crescimento da atividade piscícola, seja com recurso
próprio ou de parceiros. Muitas associações já não dependem do
apoio de recursos do governo federal, sendo a aquicultura a
principal fonte de renda dos associados.
“Um fator limitante
da produção é o alto custo da ração e, dependendo da região, o
baixo custo de venda da produção, o que pode desestimular os
pequenos produtores e dificultar a vida dos menos organizados.
Dessa forma é importante que haja uma mobilização de pequenas
comunidades visando à constituição de associações e cooperativas
no intuito de fortalecer a cadeia produtiva local”, avalia Leandro
Aguiar de Oliveira, Engenheiro de Pesca do Escritório de Apoio
Técnico de Oeiras da Codevasf.
Além de Bocaina,
atualmente outros 18 projetos de piscicultura em tanques-rede são
apoiados pela Codevasf no estado do Piauí e estão localizados nos
municípios de Campo Maior, Joaquim Pires, Luzilândia, Parnaíba,
Uruçuí, Piracuruca, Murici dos Portelas, Sigefredo Pacheco,
Paulistana, Patos do Piauí, Itaueira, Jardim do Mulato, Guadalupe,
São Francisco do Piauí e Conceição do Canindé.
Segundo o Diretor da
Área de Revitalização da Codevasf, José Augusto Nunes, o Piauí tem
ainda um grande número de municípios que podem ter na piscicultura
uma atividade para geração de renda e desenvolvimento social e é
função da Companhia apoiar esses municípios.
O apoio aos
produtores faz parte das ações da Codevasf na área de
revitalização das bacias hidrográficas do São Francisco e do
Parnaíba. Além da pesquisa e reprodução de peixes para
repovoamento do rio, as ações fomentam a aquicultura comercial,
atuando como base de apoio e desenvolvimento da aquicultura nos
estados de atuação da Codevasf. Para isso, fornecem ração e
alevinos para unidades demonstrativas de pescado, capacitam e
prestam apoio e assistência técnica a pequenos produtores,
incentivando o associativismo e cooperativismo.
Atualmente, a
empresa apoia cerca de 50 unidades de piscicultura em
tanques-rede, canais de irrigação e tanques escavados. O pescado
produzido pelas unidades apoiadas tem diferentes destinações: pode
ser vendido diretamente ao consumidor final ou para unidades de
beneficiamento onde a carne do pescado terá seu valor agregado.
Além disso, pode ser utilizado na merenda de escolas municipais,
por ser um alimento de alto valor proteico e com boa aceitação
pelas crianças.
“Em alguns casos, a
produção de peixes em tanques-rede atrai empresas maiores, o que
gera desenvolvimento àquela região. A inserção de piscicultores na
atividade de criação de peixes, além de gerar renda, também
diminui a pressão sobre os estoques pesqueiros”, explica a gerente
de substituta de Desenvolvimento Territorial da Codevasf, Izabel
Aragão.